2017 e a Milenar Arte de Meter o Louco

Fe Almeida
6 min readDec 26, 2017

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Imagine a minha vida como uma mesa posta com uma linda toalha embaixo.

Estava assim até 2017 chegar…

O problema é que 2017 foi meio grosso, não possuindo a mesma graça e leveza do Papa Francisco e eu passei boa parte do ano vendo o que ainda estava inteiro e voltaria para a mesa, o que estava irremediavelmente quebrado e teria que ser varrido e quais teriam que vir novas para a mesa.

2017 já meteu o louco no primeiro dia do ano, com meu tio trazendo um presente de Natal para meu pai e entregando para mim ao invés da minha mãe. Eu que sou uma pessoa educada (e imprudentemente sem visão de futuro em algumas circunstâncias) peguei o presente para entregar. Minha mãe que estava possuída pelo Jiraya ficou meses sem falar comigo por conta disso.

Primeiro dia de trabalho de 2017, lembro de entrar propositalmente com o pé direito e pensando em uma música do Safadão que ele abre com: “que Deus nos abençoe, vai começar”, aliás, repeti este gesto e pensamento várias vezes ao longo do ano.

Fevereiro teve viagem bate e volta, para Alemanha. E não foi exatamente um passeio, descobri como pode ser diferente um funeral de cultura para cultura e que é normal ir todo mundo para um restaurante falar sobre aquele que nos deixou. Confesso que eu mesma pouco participei da conversa, meu alemão não é capaz de entender mais do que água, batata, saída e esposa dele.

Estava em um momento profissional não muito bom e resolvi fazer coaching. Sobre o processo como um todo, digo que não gostei, não resolveu meu caso e ainda abriu um buraco na minha vida quando eu descobri que eu não tinha sonhos… Isso começou em Janeiro e foi mais ou menos até março ou abril.

Dentro deste processo resolvi que eu deveria fazer um MBA, já que uma mudança completa de carreira que envolvesse uma faculdade nova era algo que eu não estava fisicamente disposta a encarar.

Era março. Encontrei um curso que eu gostei, mostrei para meu diretor, que amou, mostrei para o sócio da empresa, este por sua vez também achou uma boa ideia. No vai, não vai o tempo foi passando. Fiz a entrevista, passei e…

… não tinha vaga para a unidade que eu queria. Eu ligava praticamente todos os dias para saber como andava a lista de espera. Até que eu bati na trave e não havia mais janela para começar em Abril.

Ah Abril! Abril foi o mês que olhou para mim e disse:

— “Estamos em 94, meu nome é Romário e você chama Roberto Baggio

Um inocente comentário no facebook mudou o rumo do meu ano e por que não da minha vida? E meu deu “vontade de sonhar em voar”, mas o momento de voar demorou a chegar, “e voei”, mas até o momento em que escrevo o texto ainda não estou “dando workshop para a Nasa”.

Maio chegou e com ele, uma nova turma para a pós se abriu. Fiz minha matrícula no mesmo dia que recebi a ligação e “fazendo o que dava com o que tinha” cheguei à unidade mais próxima do meu trabalho só com meus documentos pessoais e sem nada do que precisava da lista de documentos. A cada pergunta que o muito educado moço da secretaria me fazia eu respondia não. Estava só esperando ele me perguntar o que é que eu tinha ido fazer lá se eu não tinha nenhum documento. “Moço, desculpa eu só não queria perder a vaga de jeito nenhum”.

Foi em Maio também que meu cérebro foi “foda e me fez sonhar e meu coração fez viver” e as noites fritando na cama me impediam de dormir. Comi até sopa…

Um ex-namorado que eu não via há 14 anos brotou do chão, cheio de problemas, como todas as vezes que ele brotava e foi um companheiro para distrair a minha cabeça e me dar uns maus conselhos que eu não segui.

Inverti todos os papéis com uma amiga que já era parte da minha vida há 10 anos: eu que sempre cuidei dela, agora ela que estava cuidando de mim. Tudo começou com uma conversa que eu pedi que ela só ouvisse sem julgar e passou por um sábado à noite que eu brotei na casa dela e no caminho recebi a mensagem mais linda que alguém já me enviou até hoje: “vem tranquila, fiz brigadeiro para você, estou te esperando”.

Fazendo o que der com o que tem, comecei a fazer academias de SAP, eu ficava no trabalho até às 22h e ainda ia aos sábados.

Neste mesmo mês perdi um amigo muito querido por um desentendimento da vida, ainda dói pensar nisso. Talvez fosse inferno astral, mas o aniversário passou e não melhorou.

O aniversário foi um caso à parte. Se eu não tivesse vários aniversários ruins para me lembrar, eu diria que, (com o perdão do trocadilho) este ano foi de Parabéns. Uma dose de uísque escondida, antes das visitas chegarem e quase comecei a chorar no telefone quando meus avós ligaram para dar as felicitações. A festa para os amigos, um sal grosso voador e uma legenda no Instagram explicam bem o momento: “quando a vida lher der limões faça uma caipirinha, se ela não der compre, mas tenha sempre os amigos por perto” fiz todas as pessoas segurarem limões nesta foto e ela ficou tão escura que quase não se veem as pessoas.

No fim do mês eu me questionei mais uma vez, qual era a definição de emergência e cheguei à conclusão que deve ser 2 da manhã a definição.

Julho chegou com um convite que me fez criar para mim mesma um ultimato para agosto, que não cumpri, muitas promessas, ideias e planos não foram cumpridos este ano.

Agosto teve o dia em que fui excessivamente simpática com a motorista do Uber, a verdade é que eu estava em um misto de ansiedade, pânico, felicidade, mais pânico… Não tem nome o sentimento que me dominava. E seguido de um coração saindo pela boca umas duas horas depois.

No fim de agosto, uma proposta que gerou em parte desgosto. Mudar da administração para a consultoria, (bom!!!) com uma redução de salário (corra para as colinas) surtei, mas aceitei.

Setembro comecei no meu primeiro cliente e já tendo que arrasar ou a porta da rua seria serventia da casa em Dezembro. Por mais estranho que possa parecer, até para mim, eu não estava com o modo desespero ligado…

Ainda neste mesmo Setembro os meus medos deixaram de “ser lei do silêncio e viraram pancadão na porta da minha casa”. Dei um salto no escuro e terminei um relacionamento de 7 anos, quase 3 de casamento.

Outubro prometia ser o mês em que tudo aconteceria, vários meses antes todas as respostas que continham um mês, ele era outubro. Um amigo mudou de estado, mas não esperou a virada do mês como programado, foi ainda em Setembro. Uma nova moradora chegou à minha casa e as aulas do encantado MBA começaram.

Novembro teve uma primeira vez, quem diria que depois dos 30 ainda tem espaço para primeira vez? E também tirei o pó do meu diploma da faculdade e minha casa deixou de ter “o casal”, embora não tenha ficado vazia efetivamente…

Dezembro, resolvi que era minha hora de meter o louco em 2017 e tomei uma decisão olhando para ela, sabendo que não parecia prudente, mas por que não? Já não era a primeira do ano…

Além disso, fui à um show sozinha, conversei com estranhos…

Para finalizar hora da gratidão:

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que me deram algum conselho este ano, os quais segui rigorosamente ao contrário na maior parte das vezes. Não foi por maldade, eu juro.

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Fe Almeida

Escrevo porque às vezes nem tudo cabe dentro de mim e precisa transbordar.